Quem eu sou




Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!
Descobri da onde veio a vida,
Por onde entrei deve haver uma saída,
Mas tudo fica sustentado pela fé!
Na verdade ninguém sabe o que é!
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Com água e farinha colo figurinha e foto em documento!
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!
Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente orando no escuro, tem gente sentindo ausência!
Mas agora eu já sei na verdade quem eu sou,
Já consegui calcular o meu valor,
E sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu já sei na verdade quem eu sou.
 
O Teatro Mágico


O que tinha que ser

São vários os questionamentos saltando daqueles pequenos grandes olhos: por que preciso conter minhas gargalhadas? Por que o choro da boneca incomoda tanto? Quando foi que esgotou a cota de abraços? É difícil lembrar o aniversário de alguém tão importante? É importante? Por que não liga? Se interessa? Por que ela? Será que não percebe que faz falta? Será que não intende que segurar o choro por muito tempo amarga a alma? O que ela fez que o deixou tão bravo? Por que queria um menino? Será que em toda a sua força não sobra um pequeno esforço em protege-la? Acaso não vê que a menina cresceu, mas ainda sonha como criança? E que te ama mesmo sem razão? Hein?

Doce presença






Por que num calça um havaianas? Vai ficar lindo! Disse ela, soltando as palavras por entre os dentes de um sorriso largo. Ele, olhando e mexendo os dedos do pé, pegou sua mão, deu de ombros e disse satisfeito: Melhor não, quero ficar descalço mesmo e sentir a grama. O semblante dela deixava tão claro a satisfação de estar com Ele novamente. Repetidas vezes balbuciava ao vento: Doce presença! Seu sorriso, pateticamente constante, denunciava o sabor do reencontro. Ele, como sempre, muito calado, bem observante e todo rapaz. De costume, um olhar macio e aconchegante, só Dele. Um amor gentil envolveu os dois que se perderam nas notas de um tranquilo MPB. Ainda é possível sentir o delicioso aroma das palavras que Dele saltavam. De olhos fechados revejo a cena de um momento, que de tão inexplicável chega a ser único, unicamente deles.

O que não se pode explicar


Bem no meio do alvoroço procuro um quarto escondido na casa, te puxo pelas mãos, aproveito a privacidade e te arranco um exclusivo e largo sorriso. Há festa no quintal, mas o Noivo me reservou esse instante. Eles cantam, dançam, mas não desfrutam de sua presença. Se encharcam de vinho forte, eu, porém, apresento-Te meu cálice vazio, pronto a transbordar. Na alegria da nossa intimidade me toma em seu colo e me revela seus caminhos, me jura amor eterno e me acolhe em promessas divinas. Ainda em seus braços, me conduz pelos corredores da casa e diante de todos grita em limpas lágrimas o sentimento que Lhe corre ao sangue. Delicadamente meus pés tocam o chão, de joelhos pega minha mão e aquele seu sorriso toma o céu. Um suave beijo em minha testa e um anel no meu dedo. Bem ali, sem restrições de olhos e pensamentos a menina soluça a felicidade que não se pode explicar.

Te sentir



Quando Te busco sem reservas
Sei que me ama
Sinto que vem ao meu encontro
De joelhos Te vejo ainda maior
E quanto mais alto, mais perto de mim fica
E leva embora a solidão
De levinho se aproxima e sorri
Que agradável é Te ter por perto!
E sentir Seu respirar.
E suspiro! Rsrs

Breve relato

Quando a encontrei era só sorriso. Então, suspirou e começou a relatar: “De longe vejo ascender a luz na sala. O Senhor ainda encontra em seus aposentos. Pelo reflexo na janela dá pra ver seu cabelo branco e o desenho do seu sorriso é tão nítido quanto o brilho daquela imensa lua lá no alto. Parece que ele me chama pra lhe fazer companhia. Séria ótimo, pois aqui fora o frio me inquieta as pernas, lá parece bem aconchegante. E aquele moço sentado ao fundo? Nada lhe tira atenção, seus olhos se prenderam num pedaço de papel. O que de tão interessante enamora seus olhos? Parece desejar aquelas palavras mais que os refinados manjares. Apressada, caminho em direção a luz. Seu olhar me encontra enquanto a úmida grama afaga meus pés. A gigantesca porta de madeira se abre e uma estranha atmosfera me envolve e zera meus pensamentos. De pé às portas do palácio, coração frenético e mãos trêmulas. Mal posso sorrir, meus músculos não respondem. Mesmo assim, arranco falhada voz e digo segura: - Essas letras tortas dessa carta de amor são minhas. Cada parágrafo traduz o anseio que eu tinha em te encontrar. Me enganei, Você é mais lindo que eu imaginava. Então caio de joelhos e enquanto me derramo em lágrimas Ele, gentilmente, me coloca em seus braços e me convida a eternidade." 
Foi assim. 

(...) é estranho

Curioso como uma coisa constantemente normal se torna algo tão impróprio. Se dissolveu rápido demais, mal deu pra acostumar com a falta que faz. Coisas que a vida tenta ensinar na pancada e somos obrigados a aprender, ou pelo menos, fingir. Engolir seco o choro que nem se pode revelar. Embrulhar em papel escuro o que não se pode sentir. Esconder em fundas gavetas e proibir de vasculhar. Correr do risco de não se machucar... outra vez.

Pra te dizer do amor que sinto



É estranho saber que, mesmo sendo muitas, consigo perceber seus ímpares detalhes. Sofro suas dores, levo suas cargas, grito suas lamurias, sonho seus sonhos, luto suas guerras e as trago prum abrigo seguro bem perto do peito. Mal sabem a força contida em seus sorrisos. Quisera eu tomá-las pra mim. Há tanta beleza em seus olhos, há flores por toda a estrada. Espalham plumas, cores, cantigas. Lindos seres encantados, carregados de magia. Não sei de onde tiram tanta pureza. Um mundo vestido de flores e sementes de sonhos em verdes tons de alegria. Um copo é um balde na mão, mas de ponta-cabeça em suas cabeças chapéu de peão. Um risco é corda de malabarista, olho de chinês, é rua, é bengala, é menino magrinho, é bigode de artista. No coração guardam o segredo de ser campeão, sem sujar a mão na luta do medo da vida. São delicadamente fortes, frágeis diamantes. Viciadas em abraço, carinho e cosquinha. Pequenos raios de esperança rasgando o céu... Bagunça, pula, corre, grita, cai, levanta, chora, bate, beija, abraça, chuta, dorme, rabisca e ensina. E nós?... Não temos muito o que fazer além de se render, amar e aprender.  

Que soul a revelar


Quando pintava as flores acho que pensava em mim. Quando assoviava as notas ao vento lembrava que isso mexeria muito comigo. Quando projetava o mar pretendia fazer dele beleza demais aos meus olhos. Ao sonhar a cantiga da chuva e seus aromas sabias bem que minha alma encontraria neles calmaria e gratidão. Ao bordar o universo sabia exatamente onde me colocaria e que seria a terra certa pra frutificar. Ao pensar em mim, imediatamente traçastes minha rota e já imaginava minhas andanças. A verdade é que habito seus pensamentos há mais tempo que consigo calcular. Não tem como negar, apaixonastes por mim quando ainda era eu somente uma fagulha em sua vasta memória. Fizeste-me exatamente como via em seus sonhos, nenhum detalhe lhe escapou aos olhos. Que linda revelação trouxestes a mim. De imaginar que existo há um bom tempo em sua infinita imaginação! Talvez esteja aí a explicação por tão grande amor. Com paciência me tens, com carinho ensinas-me a entender propósitos e planos. Sua sou num tom de eternidade e grato desesperadamente pulsa meu coração. Lisonjeada que sou, tenho um Rei, um Afago, um Abrigo, um Caminho, uma Morte, uma só Vida e um intenso e ardente Amor. 


Salmo 139

Sobra tanta falta...


Não tem jeito, ela sempre visita meus pensamentos, principalmente em ocasiões como essa. Tudo me faz lembra-la. Talvez, quando partiu, não imaginava que seria tão presente assim. Queria poder dizer o quanto sua falta é sentida, o quanto é importante e o quanto seus conselhos fizeram diferença. Queria, pelo menos, tê-la em um final de tarde, em frente ao mar, que ela gostava tanto. Eu tenho tanto a dizer, mas atropelaria as palavras só para ter um momento de silêncio onde apenas nossos sentimentos falassem. Não faria muita questão em esconder as emoções, deixaria rolar publicamente as lágrimas que guardo só pra mim. E me entregaria completamente ao seu abraço. Ah, como eu queria...

Gotas


Tá tudo tão escuro, o cinza das paredes mofadas sufocam minha garganta. O grito se cala, a melodia se cansa e a fétida mente perturba-me os olhos. Não há pra onde correr, não enxergo frestas, não há passagem de luz.

A mórbida escuridão tem tentado me cegar. Estou preso, enclausurado nas grades que eu mesmo construí. O aspecto da casa é sombrio, são concretos em notas de podridão, janelas serradas, poeira, vão.

Apenas ressoa uma insistente sintonia de gotas mortas espalhadas pelo chão. Por todo lado. Somente gotas. Nada que satisfaça o anseio desesperado da minha alma. Algo no meu interior grita por socorro! E desesperadamente suplico refúgio. Sem um além pra me aquietar, sossegar as palmas dos pés.

Faltam-me as loucuras de Suas enchentes desbravando minhas correntes. Vem, desagua e arrebenta as ruínas do meu diminuído coração. Vem extravagante amor. Deslimita o inevitável, faz manhã aqui dentro. Vem, desperta aurora surpreendente. Colore meu céu com o tom rosado do seu vinho mesclado em raios de sol.

Faz alegria, renovo em som de risos altos e pura poesia. Vem do alto e traz A doce companhia. Retira o desgastado reboco e faça-me companhia. Traga-me O novo. De Novo. E só!


Esse texto eu fiz pro meu amigo Dayvid dançar! =]

Ceder


Se fez preciso retroceder, fazer calar os sentimentos, observar o meio, aquietar a alma, dosar as emoções. Pedi pro coração ir devagar, tomar cuidado, desacelerar. Pois, sentir demais não faz bem ao pulmão. Entendi! Decifrar o olhar, calcular a distância com cautela para não perder de vista o eterno responsável. Os pensamentos desorganizam a mente como crianças agitadas bagunçam a casa. Respeito o limite do seu espaço, o que não quer dizer que estou apática. O choque do nosso encontro abalou a estrutura uniforme da minha convicção. A certeza foi pra outros cantos a convite da sua inesperada atitude. Calmamente busco refúgio e descanso, pois cansei de tentar fazer acontecer pela minha força. Entreguei os pontos e, enfim, passo a responsabilidade à Quem é devida. Só Ele sabe o que é melhor pra mim. Pronto!

Tin Tin

Um brinde ao amor não fingido, ao amor sentido e colocado em prática. Um amor de cara limpa, não entendido, que incomoda. Um brinde aos amores partidos que fizeram maduros corações. Um brinde às dores de cotovelos que destronaram paixões e desencadearam laços de extremas afeições. Um brinde à poesia rica de verso, pobre de rima, de firme convicção, banhada de sentimento, fora de tempo, de linha e padrão. Um brinde às mães, de sangue ou coração, presentes ou não. Que carregam consigo cantigas eternas de preciosa tradição. Um brinde à elas e suas insistentes definições: é carinho de mãe, colinho de mãe, cheirinho de mãe, comida de mãe, conselho de mãe, saudade de mãe, falta de mãe. Um brinde ao abraço demorado, descarregador de mágoas, validado por sinceridade, doado e não vendido. Um super brinde aos surpreendentes acontecimentos dos imagináveis de repentes de Deus, que mudam os nortes, derrubam os muros e renovam os rumos. Outro brinde ao beijo amigo, desarmador de máscaras, folhado de alegria, vizinho do sorriso, possuidor de simplicidade e calmaria. Um brinde à nostalgia que faz do sol companhia, que mantem vivos fatos, riscos fartos de folia. Um brinde ao misterioso futuro que o Autor reservou aos que decifraram os segredos pintados nos olhos das crianças. Brindemos, então, à elas e à pureza escondida no tímido sorriso de primeiros contatos, à viagem infantil ao país da fantasia, onde moram seus sonhos e magias. Um brinde à capacidade só delas de lapidar em nós tesouros de pirataria, perdidos por entre as ruínas da nossa antipatia. Um brinde à sensibilidade de trilhar os esconderijos que só o Criador sabia que nos trazem coragem de encontrar a saída. Um brinde à elas! Um brinde a Eles. Um brinde à vida!



Vou seguir

Segui seu conselho, abri a janela e a luz invadiu a sala, tornando-a mais aconchegante do que nunca. O vento me trouxe um segredo perfumado de brisa. Nós tínhamos tudo, mas você roubou meu chão e seu olhar angelicalmente infantil suplicou minha retirada. Estou certa que deixei flores no seu caminho e o cheiro lhe perturba o sono. Tudo bem, não foi em vão, agora sei mais do amor, agora sei mais de mim. A luz entrou e casa se encheu de esperança. Fica mais fácil sorrir quando o vento sopra fora as velhas folhas de um saudoso passado, deixando tudo limpo para receber a tão esperada visita. E esta, traz consigo canções de novidades regadas de amor. Segui seu conselho, vou abrir e dar passagem. Que venha o novo, novos ares, novas recordações, novo tudo, novo eu, novo você, de novo nós!


Coisa Nossa


Me vi no alto, bem alto mesmo, e voando, sei lá! E lá em baixo um homem com roupas brancas correndo em alta velocidade. Seus cabelos dançavam no vento. Era um deserto montanhoso, bem largo e marrom, tinha muita pedra e poeira. E eu escutava uma voz gostosa cantando: Yeshua. De vez enquando dava pra ver Seu rosto e sorria abertamente. De repente salta de um monte bem alto e se transforma em um leão. É, a coisa é esquisita assim mesmo. Era um leãozão lindo! Ele continuava correndo e saltando os montes, e eu não sabia se chorava ou se ria. Daí eu fiquei emocionada e gritava: Leão de Judá! Leão de Judá! E a música continuava e eu ia ficando cada vez mais louca. Havia uma inexplicável emoção que não me deixava quieta e eu rugia junto com Ele, e pulava, e rugia de novo, e gritava. Eu sei, é engraçado pra mim também. Acabei me pegando numa dancinha gostosa de reggae. Quando tudo ficou suave o Leão parou no alto de um monte e rugiu diferente, bem mais alto e em câmera lenta. Então, se transformou no Homem. Daí, olhou pra mim aqui em cima, abriu os braços, como se pedisse um abraço. E me mandou um beijo. E ficamos rindo até a música acabar e eu voltar pra realidade.



Eu e Deus.

Pra nós todo amor do mundo


Te procuro o tempo inteiro, vasculho meus pensamentos e te encontro lindo, com aquele sorriso singelamente traiçoeiro que me encanta, me envolve e faz me perder nas indefinidas conjugações do tempo. O que compartilhamos vai muito além das definições humanas, o carinho que nos salta aos poros não cabe nos incômodos moldes já impostos, toda tentativa de compreensão cai por terra. Nossa ternura só testifica a intensidade da nossa ligação. Sem reservas declaro que te amo, pois não é de agora, mas de muito antes de ser e muito mais forte que eu. E... sabia? ^^

Ele que fez; Ele pode!


Às vezes Te pego dançando enquanto Te adoro. Me faz rir entre um “Santo” e outro. E morrendo de rir me pergunto: Como o Senhor da dança consegue dançar tão desengonçado assim? =D Só pra me alegrar mesmo. O mais engraçado é que nem Ele mesmo resiste às suas gracinhas. E morremos de rir. E fico olhando pra Ele que nem uma boba, cheia de uma satisfação única. Então, se curva pra me agradecer como nos grandes teatros. Privilegiada que sou, de poder desfrutar desse seu lado irreverente tão pouco divulgado. Meu príncipe bem ali na minha frente me fazendo rir e me fazendo bem.

Só Você pode.


Vem cá, deite ao meu lado, me faça um cafuné, me faça sentir bem, me faça rir. Quando eu preciso muito de alguém eu só Te tenho como opção. Você faz isso de propósito, né! Te entendo completamente. Você sabe que assim me terá do jeito que mais gosta. Embora eu procure nos outros, sei que só Você é capaz de me dar o que exatamente preciso. Você sente ciúmes e Você pode. Começo sem entender e termino agradecendo. Com Você as palavras se tornam indispensáveis, fluem tão natural. De leve encosto minha cabeça em seu ombro e lê meu coração. Fecho bem os olhos e Te vejo satisfeito, com aquela carinha de sapeca, só Sua. Então, me abraça e choro até dormir.

Dependência de quem?


Andei relendo minha monografia e achei isso interessante...


Com a realização deste trabalho foi possível, também, identificar índices de preconceitos em realção à dependência dos deficientes visuais não apenas por parte dos videntes, mas em alguns casos por eles mesmos. Boa parte admite não se sentir confortável com a ideia de que sempre irá precisar do auxílio de outras pessoas para executar tarefas que de outra forma executaria com facilidade.


No entanto, a dependência vai muito além de contar com ajuda de outros no ato da compra, como se a dependência resumisse apenas nisso. Certa vez uma garota fez um discurso em sua formatura e disse que não dependemos de ninguém para realizar nossos sonhos, que basta nossa determinação e força de vontade para alcançarmos o nosso objetivo. Afinal, somos nós que pagamos nossas contas e não devemos satisfação a ninguém.


Assim como essa garota, existem milhares pessoas que pensam de maneira semelhante e ignoram a possibilidade de depender dos outros, como se fosse algo terrivelmente vergonhoso. Você pode pagar suas contas, mas até para a água que tanto necessita chegar a sua torneira você depende de pessoas capacitadas e dispostas a fazer isso, independente da motivação. É muito comum estigmatizarmos os cegos e sentir pena deles por serem indivíduos dependentes, mas quem não é? O que seria das obras de artes em suas galerias se não houvesse pessoas para admirá-las? O que é uma marca ou a posse de um artigo de luxo se não há a quem se exibir? Se não há como compará-la? Somos todos animais que por mais que o orgulho não permita admitir dependemos uns dos outros.


O autor José Saramago ilustra perfeitamente a nossa dependência da visão e das pessoas no livro Ensaio Sobre a Cegueira. O romance nos leva a fazer diversas reflexões acerca de nossa forma de vida, nossos costumes e caráter. Depois que todas as pessoas perdem a visão para que serve o nome, formação ou conquistas? Tornam-se como cachorros que se conhecem pelo cheiro, pelo ladrar, pelo falar. Quando se encontram na mesma situação procuram se agrupar como se quisessem proteger um ao outro, contudo, quando se deparam com seus interesses próprios a solidariedade é questionável. Isso nos leva a pensar que não existe reciprocidade no medo egoísta, por outro lado não há racismo na cegueira, se não, a apatia pelo proceder que desagrada. Uma cor não te faz superior nem inferior a ninguém. Não há beleza a não ser a de um caráter irrevogável e a do respeito com seus semelhantes.


Sendo assim, este trabalho não tem a pretensão de ser conclusivo, ao contrário, ele pede para ser superado. Pois, ainda há o que explorar, uma vez que o universo do deficiente visual tem muito mais a oferecer não apenas em termos de pesquisa científica para um trabalho acadêmico, muito mais para nosso aprendizado como seres humanos que precisamos aprender a lhe dar com as diferenças, a não fazer acepção de pessoas que sentem dificuldades em executar tarefas que para nós, titulados normais, são simples de realizar e a não nos julgarmos superiores sentindo pena de quem possui um sentido a menos.


Afinal, “qualquer um pode tentar recriar o mundo para construir, no seu lugar, um outro mundo, em que seus mais insuportáveis aspectos são eliminados e subistituídos por outros que estão em conformidade com os desejos de qualquer um”. (FREUD apud ANDRÉ, 2006).

Até quando


Ela era linda até enxarcada de rugas, era doce até quando sua alma ardia de amargura, gentil até quando em alta voz xingava horrorosos palavrões. Ela conseguia ser forte até mesmo quando o medo saltava aos olhos, divertida até quando não havia resquícios de alegria em seu semblante, sorridente até quando lhe faltavam todos os motivos do mundo. Ela conseguia ser companheira até estando ausente. Era mãe até quando não precisava e amiga até quando precisava não ser. E continua sendo minha mesmo tendo me deixado há tanto tempo.

Daqui de baixo


Embaraço de sentimentos

Temos o dom de complicar

Tendemos sempre ao extremo

Muito de mais e pouco de menos

Há tanta coisa fora da ordem

Pulo quando é pra saltar

Giro quando é pra avançar

Esquivo-me quando é pra ajoelhar

Não me enxergo quando olho para os outros

Procuro espelhos e vejo quem não quero olhar

Me entreguei, já não vivo o comum de uma vida igual às outras

Busco passos no ritual da minha implacável rotina

Encontro obstáculos regados de regras, cansativas repetições, e o suor arde em meus olhos impedindo que eu me atente ao que próximo de mim está

Meu falar é carregado de doses homeopáticas de ternura,

Não me permito errar.

A queda me constrange, mas me levanto, fecho as portas e me tranco em mim

Restando apenas eu e minha inútil soberba.

Aprendi que há muito mais na verdadeira dança.

Existe uma entrega real, que nem meus membros e articulações conseguem expressar

Me desprendo das amarras de um estreito bailar e me lanço

Daqui de baixo fica mais fácil ver onde se encontram meus erros

De joelhos nivelo o terreno rochoso do meu orgulho cedendo espaço para extravagância

Organizo meus desejos e sonhos e danço.

Sorrateiramente


Fiz uma cabaninha de coberta pra ganhar privacidade e enquanto eu chamava seu nome me imaginei criança. Logo entrei na personagem e já senti ansiedade do Pai vir brincar comigo. Tive que me conter ao vê-lo entrar sorrateiramente e com aquele sorrisinho de bom moço dizer: “Com licença, doce senhorita!” Dessa vez portei-me como uma adolescente de trança, franjinha e vestido rodado. Com um tímido sorriso de canto, respondi de leve: “Fique á vontade, querido rapaz!” Nos olhamos com tanta ternura que as palavras tornaram-se desnecessárias. Tinha mais amor nos seus olhos do que em seus lábios. Foi, então, que me dei conta de que é esse mesmo amor que espera que eu coloque em prática. Agindo mais que falando. Adormeci ali mesmo, segurando sua mão e te amando ainda mais e mais!

E demorar...

Foi bem agora, me encolhi no Teu colo. Ainda sem entender que espécie de amor é essa, escorreguei minha mão pelo Seu rosto grande e pude sentir o ingênuo pinicar do despontar de Sua barba. Pode parecer estranho, mas Te humanizo sempre que meu desejo por Sua presença se torna incontrolável. Aí, eu choro, porque não me agüento! Preciso externar! Então resmungo doces palavras enquanto minha boca procura por seus ouvidos. Tem hora que Te sinto denso. Quanto mais aperto meus olhos mais nítido Te vejo. E quanto mais aperto mais vontade tenho de Te apertar. E Te beijar. E demorar num abraço.

...dar passagem

"Estava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a banda passar Cantando coisas de amor. A minha gente sofrida despediu-se da dor. Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou. O faroleiro que contava vantagem parou.
A namorada que contava as estrelas parou para ver, ouvir e dar passagem.

A moça triste que vivia calada sorriu. A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou pra ver a banda passar cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou que ainda era moço pra sair no terraço e dançou. A moça feia debruçou na janela pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu. A lua cheia que vivia escondida surgiu. Minha cidade toda se enfeitou pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor. Depois de a banda passar cantando coisas de amor."



Do nada me veio essa música na cabeça. Por instantes a cantarolei e passei a reparar sua letra. Quando Chico Buarque a escreveu talvez não tivesse dado conta da verdade que seria cantada. Eu vejo que essa banda que canta coisas de amor se refere às pessoas cheias de Deus e sua irradiante alegria que se dispõem em levar as boas novas aos perdidos. E ninguém, ao ouvir sobre o amor, consegue ficar normal. Onde há o AMOR o sofrimento tem que sair mesmo. Deixamos de pensar nas coisas terrenas. Até a tristeza salta de alegria. O AMOR nos fortalece. Os jovens, as virgens e até os velhos dançam. O AMOR insiste, tráz revelação ao que estava escondido e enche de cor nossa vida. Muitas vezes quando o AMOR passa por nós nos encontramos à toa, sem menos esperar Ele vem. Contudo, assim como na parábola do semeador, paramos para escutar, curtimos a levada, até dançamos, mas não seguimos a banda. Ela simplesmente passa por nós e tudo volta ao seu lugar. E assim como cada pessoa dessa cidade, vemos a banda passar e não buscamos mudança. Preferimos viver no comodismo de nossas vidinhas medíocres. Preferimos a suposta segurança e o conforto de nossos lares e esquecemos do que nos diz as Escrituras. Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura.

Vemos, ouvimos e, infelizmente, damos passagem. E Ele passa.

Esclarecendo

Futriqueiros de plantão, preciso só esclarecer uma coisa.
Quando eu falei que queria casar com um skatista é 'um' skatista e não 'o' skatista.
Não tenho ninguém em vista, estou esperando em Deus.
Não quero nada com o Markito, que ele seja feliz no seu casamento e a Gisele é um amor de pessoa.
E quando eu disse 'frustação' não quer dizer que vivo em função disso.
Quem me justifica é Deus!

"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo praga nenhuma o alcançará. Eu fiz do Senhor minha rocha, escudo e refúgio e nenhum mal me sucederá..."

Nada de regras, somente escolhas!


Um sistema dita as regras e precisamos nos encaixar. Você não concorda, mas tem que se esforçar pra caber. Vamos! Se esprema, se esmague, mas se encaixe! Não importa se te sufoca, o importante é entrar. Fiquei quieto e de preferência calado. Atitudes regradas em função do outro. Alguém te copia, então trate de ser o que esperam de você. Apenas seja, isso basta! Não importa, tem que caber. Não faça movimentos bruscos e sorria, você está sendo filmado!


Por um momento minha tempestiva, limitada e humana mente me fez acreditar que as coisas funcionam assim. Por um surto instantâneo me deixei levar pelo gosto azedo de minha insignificante revolta. Mas, Sua palavra veio como LUZ! (Te amo!) Você me mostrou que é necessário mesmo sendo tão chato pra mim.


“Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem, tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos para que sejam salvos.” I Cor. 10:32,33


O Senhor é tão lindo que chega a me constranger. Tão simples e delicado, quando fala é diferente, bate de frente, contudo não chega a doer. Não vejo como regrinhas pré-estabelecidas, mas como escolhas a serem feitas. E eu Te escolho! Quero viver sua simplicidade pautada no amor. Sigo tentando...

Sem manha




Eu me vi de pé no meio de um gigantesco espaço aberto. Como uma criança envergonhada tapava os olhos. Tinha medo de abrir e me deparar com a densa escuridão que me cercava, preferia a minha, é mais aconchegante. Eu sabia que estava sendo observada por alguém muito grande. O silêncio era rasgado pelo choro que eu não conseguia guardar em mim. Meu corpo esperava tenso o toque de Sua mão. E nada! E assim fiquei lá parada por um longo tempo. Era noite e o frio esbarrava bruscamente em minhas pernas. Aos poucos o choro se aquietou e foi quase possível ouvir as batidas do meu ansioso coração. E me acalmei, mas ainda esperava ser abordada pelo suave toque de Suas mãos. Naquele momento senti como se não houvesse mais ninguém me observando. Nada acontecia, nada se movia, nada! O silêncio interrompia meus pensamentos. Fui criando coragem e lentamente fui escorregando as mãos e aos poucos fui abrindo os olhos. Nesse intervalo imaginei que estaria bem à minha frente esperando abri-los de vez, mas não. Fiquei sem norte! Fixei os olhos e a escuridão foi se dissolvendo e já podia perceber que mesmo longe havia uma paisagem. Meus pés pareciam estar enraizados na terra. Com muito esforço dei um passo inseguro na esperança de ser interrompida pelo leve toque de Sua mão. Me conformei com Sua aparente ausência. Caminhei alguns minutos até me sentir aliviada. Um sol fraquinho pediu licença e me veio fazer companhia. O sorriso, então, se apresentou de forma espontânea. E assim, sem esperar, Você tocou meus ombros e sumiu sem me dar a chance de compartilhar o sorriso. E eu olhava desesperadamente por todos os lados, mas Se escondia de mim. Aí, Te senti sem Te ver. O vento brincava com meus cabelos enquanto eu me abraça pra Te abraçar. Intimamente Te ouvi dizer baixinho: Me encontre no sorriso sem culpas, sem manhas, sem complexos, sem auto-piedade, sem medos e cheio de Mim. Tá bom! Respondi te amando ainda mais.

Incômoda exposição


Aí vem alguém, invade meu porão, mexe nas minhas coisas e me expõe. Me sinto invadida, exposta à claridade da lanterna dos olhos dos outros. Essa exposição me incomoda. Prefiro me trancar em mim e fingir esquecimento do que não admito possuir. Mesmo mofado e úmido meu porão é mais seguro do olhar terceiro que me mostra o que ainda não foi e precisa ser corrigido. Eu sei, mas saber que eles sabem me incomoda. Difícil mesmo é reconhecer que estão certos e que enquanto não for consertado irão permanecer e continuarão me expondo e me incomodando e me invadindo. Um ciclo natural das coisas naturais, naturalmente tratadas. E assim vou.

Agora eu sei


Desde que nascemos somos obrigados a aprender várias coisas. Aprendemos a chorar, logo, aprendemos que se consegue um monte de coisa com este choro. Aprendemos a andar, a falar e a distinguir pessoas queridas. Aprendemos a fazer um monte de coisas. Daí, aprendemos que não se pode fazer um monte de outras coisas. Aprendemos a ler, escrever, construir amizades, desfazê-las, refazer. Chega um tempo que aprendemos que não existe Papai-Noel, que o Coelho da Páscoa é uma farsa, que se não dormimos Cuca nenhuma virá nos pegar e que floresta encantada só existe no nosso imaginário. Aprendemos que nem toda amizade é pra sempre, que não existem as tais encomendas das cegonhas, que uma hora ou outra aquela idéia de bater a campainha do vizinho e sair correndo vai dar errado, que aquela paixão avassaladora nem era tão forte assim. Aprendemos que pessoas que amamos muito também morrem e embora a dor seja muito grande, aprendemos que passa. Aprendemos que embora tenhamos aprendido muita coisa ainda há muito o que aprender. Esses dias aprendi que não posso dizer que amo a Deus se não busco conhecê-lo todos os dias, se desprezo a única arma de ataque que tenho em minha armadura e se não consigo passar 30 minutos por dia em Sua presença. Foi duro, mas aprendi isso. Pode parecer totalmente contraditório, mas foi o balde de água fria que despertou o fogo que estava em mim adormecido.

Só o que restô.

Num cantinho envolto de cobertô

Toda trabalhada em vestido de flô

Nos olhinhos gotas de amô

Saudade que veio e visitô

Sem querer, a pobre coitada, bateu no peito e machucô

Na porta do coração palavras duras sem cô

Escritas no papelão que o vento num carregô

Fique quietinha que o tempo passa e nas suas asas leva a dô

Espero poder um dia ficar ao seu dispô

Cantar poesias bonitas com voz de cantadô

Deitada no seu colo até o sol se pô

Fico só com a fotografia que o tempo amarelô

Te tenho só um pouquinho e foi só o que restô.


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