A cidade dos pensamentos sujos


Meus pensamentos são altos demais. Não! Não falo no sentido de pensar grande, além da minha realidade, assim também, mas meus pensamentos são tão altos que os outros são capazes de escutá-los. Eu posso jurar de pé junto que não falei, só pensei. Mas, eles têm certeza absoluta que escutaram. Então quem disse? Preciso aprender a pensar mais baixo. Vai que penso uma barbaridade? E vai que não me entendam? Vai que não codificam corretamente a mensagem? Deus me livre e guarde, um buraco no chão seria pouco pra tanto vergonha! E se eu não conseguir ajustar o volume dos meus pensamentos? Eles me interrompem o tempo inteiro, meu Deus! São incontinentes e invadem minha privacidade. Será que não podem me deixar em paz? É mesmo necessário pensar em todo tempo?
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Mente não descansa, nem no sono. Ela não dorme, trabalha para o sonho que, já sei, vai me roubar um bom tempo amanhã me obrigando a pensar nele. Viu? Mas, são meus e não dos outros. Neste caso, preciso aprender a pensar. Então, olho para o teto, coloco a mão direita sobre o peito esquerdo e prometo guardar os pensamentos vetados para o meu momento “MEU”. Melhor, vou criar a cidade dos pensamentos sujos! Preciso inventar uma senha de acesso, umas daquelas bem difíceis de guardar e fáceis de esquecer. Desta forma, será uma cidade sitiada. Só assim os outros me darão sossego.
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Quando escutam o que querem perdem a sensibilidade crítica e passam a não se incomodar com os pensamentos altos. Não importa o quão altos sejam, o que importa é se vão de encontro à hipocrisia mascarada. Quando meus pensamentos não incomodam os outros, os outros não me incomodam. ÊÊÊ! E viva a estranha harmonia das coisas!

Janelas, olhos e Primavera


Você já parou para pensar quão interessante é o ponto de ônibus visto pela quase visão do motorista? Ontem sentei nas cadeiras reservadas do ônibus e pude reparar como é a reação das pessoas que ficam no ponto. É assim, fica uma fileira de cabecinhas devidamente organizadas umas atrás das outras. Dá até pra ver imaginativamente os olhos de cada uma delas, embora cansados, ficam arregalados e espertos buscando encontrar nas letras distorcidas na testa do ônibus o nome de seus respectivos bairros. Quanto mais se aproxima o objeto de desejo mais inquietos os olhos ficam. Dá pra perceber, também, a extrema satisfação se for o esperado e o desapontamento se não for.

Caramba, meu pensamento acaba de ser interrompido por um objeto voando em direção a janela. E a baixinha de óculos nem se condoeu. Como pode a pessoa jogar lixo na rua e depois ficar com a cara mais lavada? A cara dela nem queima. Que raiva!

Bem, voltando ao assunto menos revoltante... A sensação de ver o veículo que o conduzirá ao seu confortante lar depois de um dia exaustivo de trabalho e faculdade é indescritível. O bom de pegar ônibus 11:20 da noite é que geralmente está vazio e silencioso, nada de sovacos suados e melados, crianças vomitando, pessoas gritando ao celular ou palestrando umas com as outras. Dá pra tirar um cochilo, ler um pouco ou simplesmente ficar pensando na morte da bezerra. E passando pela Antônio Carlos dá pra sentir como fica absurdamente perfumada à noite. As responsáveis são as árvores floridas em frente à UFMG e graças à primavera!

Êh! Viva a primavera!

Isso me fez lembrar uma música do Tim Maia.
É primavera, te amo. É primavera, meu amor. Trago essa rosa para te dar.Essa música não me trás boas lembranças...

Experimente andar de ônibus 11:20 da noite e se possível sinta o maravilhoso cheiro da Antônio Carlos, mas corra, porque do jeito que as estações estão doidas a primavera pode ir embora antes mesmo do esperado.

Alvo


Quando te pedir a vida, dê!
Quando quiser um sacrifício lembre-se de Isaque.
Onde está escondido seu cordeirinho?
Que preço tem sua oferta?
Qual o peso da sua gratidão?
Alguém por ai já presenciou o fogo lamber o molhado,
e você fica lamentando o leite derramado.
Onde foi parar a mula que te apertou contra a parede?
Sua indiferença não calou suas palavras.
Palavras essas de indignação que como súbito estalo
te fez arregalar olhos aterrorizados
E ainda sim, o acomodo de deixá-los cerrados para a realidade
te arrasta para longe do palácio.
A voz do rei é ordem para os súditos
e você que é filho se deixa levar pelo silêncio da sua própria vontade.
Use o retorno, aproveite enquanto há luz na sala do Trono.
Difícil enxergar?
Deixe que de dentro as lágrimas cumpram sua função.
Limpeza é o que precisa!
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